O Novo normal que eu realmente espero

Este texto é basicamente o esboço de um sermão de minha autoria pregado no púlpito da Igreja Presbiteriana de Vila Eutália-SP

Petronio Junior
6 min readApr 26, 2021

Um assunto comentado e esperado nos tempos em que vivemos é o “novo normal”. A forma com que a pandemia do coronavirus afetou nossos costumes e agenda, nos propõe há um desafio que nos leva a pensar em uma nova forma de vivenciarmos a vida de uma forma readaptada. Mas, será mesmo que antes do coronavirus nossa vida era normal?

Alguns chegam a comentar que a pandemia veio nos reeducar com princípios esquecidos, o que até pode ser uma verdade, porém, vemos que alguns se aproveitaram da própria pandemia para usarem toda a sua depravação.

Segundo a bíblia, o mundo em que nós vivemos não foi criado assim. A normalidade do mundo não está antes da pandemia. A normalidade deste mundo está registrado em Gênesis 1 e 2, quando diz que Deus criou tudo muito bom e com o propósito de tudo aqui ser para o louvor de sua glória. Esse sim é o estado normal do mundo. O que acontece em Gênesis 3 é conhecido como a queda. É nesse momento em que a Terra perde sua normalidade, sua naturalidade e sofre uma terrível deturpação. O pecado devastou a criação. Todo ser humano se tornou depravado e a criação foi sujeita a maldição por causa desse grave acontecimento.

Apesar de toda preservação, da parte do criador, e de toda sua provisão é inegável o fato de que a criação passa por sofrimentos como consequências do pecado que fez separação direta na maneira como o criador se relaciona com a sua criação. Todavia, no mesmo capítulo 3 do livro de Gênesis nós temos a boa notícia de que haveria uma vingança contra essa corrupção produzida pelo tentador.

Então, o que temos é um princípio bom, sofrendo deturpação, com a expectativa de um final que reverta e vença esse mal.

Há um ramo da teologia que se chama escatologia. Ramo este que tem por função estudar a partir da bíblia o destino final do mundo e do homem, é o estudo sobre as últimas coisas; coisas como a volta de Jesus, o juízo final, os sinais do fim dos tempos e etc. E há vários estudiosos que dedicam suas pesquisas e trabalhos para encontrar caminhos e doutrinas a partir desse campo teológico.

Pensar em escatologia não é algo periférico para o cristão. Apesar de existirem várias linhas interpretativas da mesma, a fé cristã é uma fé escatológica. A nossa esperança está na era vindoura. O cristianismo, então, é total e visceralmente escatologia, e não só a modo de apêndice; ele é perspectiva e tendência para frente.

A boa notícia da morte sacrificial de Cristo e da gloriosa ressurreição tem implicações eternas para o destino de cada ser humano.

O que nós aguardamos, então, é muito mais poderoso e amplo do que podemos imaginar, por isso, as Escrituras dizem que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, o que Deus preparou para nós”. Isso não diz respeito diretamente as bênçãos que já experimentamos aqui neste mundo, mas sim, o desfrute perfeito de todos os benefícios que temos em Cristo e que só gozaremos plenamente na consumação de todas as coisas, quando, enfim, Cristo vier das nuvens visivelmente buscar sua Igreja para viver com ela eternamente na verdadeira cidade santa, que não é deste mundo, ela virá com ele do futuro.

Com isso, nossa vida peregrina aqui é um verdadeiro já e ainda não. Já somos salvos da condenação do pecado, mas, ainda não da presença dele. E o pecado é o grande mal deste mundo, foi pelo fato do pecado entrar no mundo que tudo aqui virou um festival de egocentrismo, isto é, um ambiente em que o homem se torna o centro. Por causa do pecado, Deus é inimigo dos homens rebeldes, eles lutam contra a vontade de Deus. Então, nós precisamos enxergar o pecado como ele realmente é. O pecado não se trata apenas de uma infração de regras. O pecado é um estado de rebeldia maldita contra Deus e que pra isso não basta, então, querer fazer as coisas corretas pra se livrar dele. Simplesmente mudar seus hábitos não vão reorganizar as coisas. Nada que criemos ou façamos neste mundo, por mais legítimo e rico que seja, resolverá o verdadeiro problema desde mundo. Voltar ao normal, então, pra nós cristãos, não está ligado às coisas deste mundo. O estado normal do mundo é o estado originário dele. É o mundo onde a justiça habita. Mesmo aquela vida que estávamos familiarizados e acostumados, não era normal. Muita coisa horrível acontecia diariamente no mundo todo, por causa do pecado. Apesar de estarmos habituados com aquela vida e não podemos desejar que nossa vida volte a ser como era. Isso me faz lembrar os hebreus, no êxodo, quando estavam no deserto. Invés de sonharem com a terra prometida, desejavam voltar ao Egito, a terra da escravidão. A nossa esperança deve ser de olhar para frente e desejar herdar o que Deus tem prometido pro seu povo. “Paz, consolação e justiça na eternidade”.

Segundo Calvino, Deus permite a tribulação na vida presente para que aprendamos a desprezá-la, a fim de que sejamos despertados a considerar e valorizar a vida futura. Esse desprezo da vida presente não é agir com ingratidão a Deus, antes é enxergar com grandiosidade a vida futura que torna a presente desprezível.

Cristo nos disse: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. (João 16:33)

Nosso consolo, irmãos, está em saber que Deus porá fim às coisas presentes, que se corromperam por causa do pecado, e, então, porá em sua presença todas as coisas com nova forma, mais belas e mais ricas.

O que nós desejamos, então, é um novo normal, nos padrões de Deus, a normalidade do Criador. Ser e viver longe daquilo que nos impede de permanecer relacionando-se profundamente com Deus, glorificando a ele e gozando-o para sempre.

Pensando nisto segundo texto de 2 Pedro 3:9–13

O Apóstolo Pedro quando escreveu a segunda carta tinha a intenção de relembrar os cristãos de que Cristo voltaria sim, ainda que alguns falsos mestres dissessem que não. E neste sentido ele anima os leitores para não desistirem de se dedicarem na sua fé e a confiarem com esperança na promessa do Senhor. O nosso desafio ainda é o mesmo. Vivemos num mundo em que se experimenta tribulações e logo as confusões de idéias e do que realmente possa ser uma mensagem consoladora e não há nada mais consolador, para um coração ‘desesperançoso’, do que o evangelho de Jesus

Aplicando o texto:

1. Depositem toda a vossa confiança no Senhor

Na verdade, o Senhor não demora em cumprir sua promessa, como pensam alguns. Pelo contrário, ele é paciente por causa de vocês. Não deseja que ninguém seja destruído, mas que todos se arrependam. Contudo, o dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus desaparecerão com terrível estrondo, e até os elementos serão consumidos pelo fogo, e a terra e tudo que nela há serão expostos. (vs 9,10)

Deus cumprirá sua promessa. Ainda que pensemos que não, ele virá repentinamente, quando menos esperarmos. Confiem no Senhor e em sua Palavra.

2. Comprometam a vossa vida com Senhor

Visto, portanto, que tudo ao redor será destruído, a vida de vocês deve ser caracterizada por santidade e devoção, esperando o dia de Deus e já antecipando sua vinda. Nesse dia, ele incendiará os céus, e os elementos se derreterão nas chamas. (vs 11,12)

Enquanto viver aqui, vivam de modo que seja manifestado através da sua vida o Espírito da era vindoura. Seja embaixador do Reino de Deus. Gaste sua vida encarando-a com o grande propósito de fazer com que as pessoas saibam o que realmente é viver dignamente.

3. Tenham esperança na promessa do Senhor

Nós, porém, aguardamos com grande expectativa os novos céus e a nova terra que ele prometeu, um mundo pleno de justiça. (vs 13)

O ambiente de novos céus e nova Terra é a grande esperança do crente, o lugar onde habita a justiça é o nosso lar real que está sendo preparado por Cristo, ali será o deleite eterno com Deus e todo o povo santo. Longe de todo pecado.

Conclusão:

Portanto, amados irmãos, confiem na Palavra do Senhor, dediquem-se a viver em santidade e tenham esperança na grande promessa do Senhor. Não percam isso de vista. Desejem, busquem e testemunhem isso. Concluo fazendo uma citação do livro “O Peregrino” de John Bunyan, um clássico da literatura cristã. Quando ele diz no final de seu último capítulo: “(…)Lá receberão consolo por todos os seus esforços e terão alegria que compensará todos os seus pesares; colherão o que plantaram, o fruto de todas as suas orações, lágrimas e sofrimentos pelo Rei ao longo do caminho. Nesse lugar usarão coroas de ouro e desfrutarão da eterna visão do Santo, porque ali o verão como ele é.”

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Petronio Junior

Marido de Tuanny e pai do Ben. Pastor na Igreja Presbiteriana do Brasil e corinthiano. Tudo isso pela graça de Deus